Introdução
Muitas pessoas se perguntam sobre a origem da igreja Católica.E sempre as
perguntas são: Jesus fundou uma Igreja? É a igreja Católica a primeira
e a verdadeira? A princípio não é fácil responder a essas perguntas. É
preciso que os ouvintes tenham de antemão alguma compreensão de teologia
bíblica; tenha algum conhecimento da história das sociedades antigas,
sobretudo do império romano. Também é preciso humildade e clareza para
compreender as informações e saber interpretá-las.
Creio eu, que tendo acesso as
informações e essa abertura de mente é possível uma resposta de forma
humilde, sem pré-juizo de faltar com a verdade em detrimento de
calorosas falácias e antigas rivalidades. Então, vamos a uma possível
resposta, com base em alguns livros e documentos da Igreja Católica.
Jesus e a pregação do Reino
É preciso que em primeiro lugar,
tenhamos a compreensão de quando Jesus iniciou sua pregação não tinha a
pretensão de formar um povo, uma religião ou coisa assim. De modo algum.
Ele sendo de cultura judaica, religião judaica e assíduo leitor e
seguidor das Escrituras, como qualquer judeu, esperava ele, a vinda do
Reino de Deus; o Julgamento sobre o povo de sua raça; conforme as
expectativas messiânico-apocalíptica do seu tempo (cf. Mt 10, 5-10ss;
15, 23-24s), e em consonância com toda uma expectativa e tradição do
Antigo Testamento.
Segundo os teólogos e exegetas, por
exemplo, Schillebeeckx, J. Jeremias, entre outros… Jesus tinha a exata
noção em si mesmo de que Deus estava agindo naquele contexto e
circunstâncias e, que ele mesmo, Jesus, era portador da ação de Deus
para o seu povo, Israel. Sua ação foi de alertar o povo, chamá-lo para a
conversão/comunhão com Deus (cf. Mt 4, 17). Sua práxis gerou conflitos,
sobretudo com os religiosos dirigentes da nação, e esses mesmos
dirigentes do povo trataram de o eliminar do meio de sua gente (cf. Lc
19, 47-48; Mt 26, 1-5; Mc, 14, 1-2; At 2, 22-24). Jesus pregava o Reino,
morreu pela causa de Deus, mas Deus mesmo o ressuscitou. Jesus morreu
por causa do Reino, não por ter dividido ou criado um povo, seita ou
coisa assim. Em nenhum texto do Novo Testamento se encontra a informação
de que em vida Jesus teria iniciado um novo povo ou até mesmo incitado à
divisão sua gente. Naquele contexto, enraizado na cultura judaica, era
impossível.
O despertar da consciência missionária e a acolhida dos pagãos: fundação das comunidades
A Igreja com consciência de ser um povo
novo só apareceu muito mais tarde. E para isso, o primeiro passo foi a
partir do momento histórico em que os discípulos obtiveram a consciência
da pregação missionária (Schillebeeckx, 2008) (cf. Mateus 28, 16-20;
18,18-20; Atos 1-2). Provavelmente, pouco tempo depois do evento da
ressurreição. É com a pregação missionária apostólica que nasce a
primitiva comunidade cristã dos seguidores de Jesus, de modo
embrionário. No momento em que essa pregação acolhe também os não judeus
(cf. At 10), é que a comunidade vai crescendo. Também vai aparecendo os
primeiros problemas, conflitos que gera discussões e diálogos, dando
forma, substância e consciência a Comunidade como movimento aberto, do
ressuscitado. Em pouco mais de vinte, trinta anos, judeus, prosélitos e
tementes a Deus advindos de todas as partes do Oriente e da Ásia (cf. At
2, 5-13s) já formam um povo, uma Igreja considerável. E aí os conflitos
(cf. At 15, 6-21) se acentuam. No centro desses conflitos e da fundação
das comunidades está sem dúvidas o trabalho de São Paulo. Seus escritos
nos mostram uma consciência já bem mais refinada e de certa forma
amadurecida com respostas firmes sobre a identidade, natureza e missão
do novo povo, do novo movimento, da nova igreja. A partir das cartas,
como por exemplo, aos Gálatas e Romanos, é possível perceber a forma
como chegaram a essa consciência missionária e da compreensão de um novo
povo, a luz dos textos do Primeiro Testamento e do fato-evento Jesus
Ressuscitado.
Dessa compreensão (AT e Jesus
Ressuscitado) é que nasce às comunidades-igrejas como novo povo de Deus
na linha de um plano universal, onde nesse plano cabiam todas as nações,
povos, raças e línguas (cf. Mt 28,16-20; At 1-2). Tudo isso,
evidentemente, não foi isento de conflitos e que você pode encontrar nos
estudos bíblicos.
Católica: universal
Durante todo período do primeiro milênio
houve uma expansão das comunidades cristãs por todo mundo conhecido. A
igreja chegou com sua pregação às culturas em sua grande maioria urbana
(Mesters: 1991). As comunidades fundadas reconheciam a igreja de
Jerusalém como Mãe; e eram igrejas muito livres na sua vida e dinâmica
interna. A Igreja na Europa, por exemplo, está dentro desse contexto de
pregação apostólica e nasceu ainda estando alguns dos apóstolos vivos.
Ela nasceu da pregação apostólica, dos próprios apóstolos. E, por todo
canto já se conhecia os seguidores de Jesus como “cristãos” (cf. At
11,25-26). Antes, era dito “… o Caminho.” (cf. At 2,1-2ss). Entretanto a
comunidade cristã só teve o nome de “Católica” (palavra grega que
significa Universal) – Igreja Católica, provavelmente a partir do ano
110.
Foi santo Inácio de Antioquia (que
possivelmente conheceu a são Paulo e ao apóstolo/evangelista são João)
que escrevendo aos cristãos de Esmirnas disse: “[...] A comunidade se
reúne onde estiver o bispo e onde está Jesus Cristo está a Igreja
Católica…” (Carta aos Esmirnenses. Texto extraido do livro: Antologia
dos Santos Padres. Editora Paulus.1985. Autor: Cirilo Folch Gomes.osb.
Pág. 43. ). É a partir desse momento que os cristãos recebem de uma vez
por todas um segundo nome: Católicos.
Com a divisão de 1.054 duas tradições diversas se impõe: Católicos romanos e ortodoxos
Apesar das crises, da existência de
movimentos gnósticos no seio das igrejas, não havia uma separação do
movimento em sua totalidade, isso só veio acontecer em 1.054, e que teve
um impacto muito grande até os dias de hoje. Naquele tempo, o Império
estava passando por fortes crises políticas. As comunidades estavam
organizadas em Patriarcados (Ex.: Gregos, Romenos, Sérvios, Sírios,
Russos, Búlgaros, Jerusalém, Latinos) e se respeitavam mutuamente como
Igrejas-irmãs. Cada qual tinha seus ritos e costumes próprios. A Igreja
de Roma tinha a “precedência da Caridade”. Isto significa dizer que, ela
era respeitada e ouvida pelas demais, e tinha maior responsabilidade,
contudo, não detinha poder sobre as outras. Essa precedência tinha razão
de ser, sobretudo porque os apóstolos Pedro e Paulo eram considerados
(e são até hoje) as colunas da igreja e foram mortos martirizados em
Roma.
É dentro do contexto político
conflituoso do Sacro Império Romano, por volta do ano mil, que no
Ocidente (nós) a Igreja Romana detinha a hegemonia, e enquanto do lado
Oriental (eles), era o Patriarcado de Constantinopla. Por questões
políticas (peço que estude a história desse período), e por questões
internas das igrejas, de ordem teológico-cultural, é que em 1.054
acontece a divisão. É aí, que segundo a opinião de alguns populares,
“nasce” por assim dizer, a Igreja Católica Apostólica Romana; e a Igreja
Católica Apostólica Ortodoxa, nos moldes como a conhecemos hoje.
Talvez seja a esse fato, que alguns
aludem, para justificar sua idéia de que a Igreja Romana não tenha sido a
“primeira” e não pode ter para si o “direito” de ser portadora da
salvação em detrimento das demais, entre as quais, estão os
Protestantes. Então, creio eu, que tais fundamentos são muito evasivos e
precisam de melhor contundência, ademais, sugiro aos meus ouvintes e
internautas que se acerquem de um estudo teológico sério, histórico e de
forma bem aberto e ecumênico. Quanto a cerca dessa questão, não
entraremos no seu mérito, pois, não é esse o objetivo desse artigo e,
além do mais, creio eu, já expus bastantes elementos para uma resposta e
que também se constitui de elementos para um aprofundamento.
Quanto às duas formas de vivencia do
Cristianismo podemos ainda acrescentar o seguinte: No Ocidente
predominou os Romanos, no Oriente, os Ortodoxos. Porém, essa divisão que
durou todo o segundo milênio só veio terminar quando em 1965 (Vaticano
II) o papa Paulo VI (07/12/1965) retirou a excomunhão sobre o Oriente e
vice-versa. Hoje já existe um grande avanço de convivência e comunhão
fraterna, outra forma de pensar e agir, confira por exemplo reportagens e
documentos recentes sobre essa questão.
Conclusão
Se percebemos de forma sutil a história
do Cristianismo como um todo, aquela que mais tarde foi cognominada de
Igreja Católica Romana, não nasceu “primeiro” como dizem algumas vozes, e
nem de um certo “depois”, “segundamente” como provavelmente pensam
alguns por ai, mas, ela se insere dentro do mesmo e único movimento
missionário apostólico e por isso mesmo é reconhecida e pode dizer de si
mesma “Igreja Católica Apostólica Romana” tanto quanto aquelas que,
mais tarde, também cognominaram “Igreja Católica Apostólica Ortodoxa”.
No decorrer dos séculos cada uma teve sua própria história, sua própria
organização, sua própria compreensão teológica e bíblica. Para nós
Romanos, a Ortodoxa, segundo o Concílio Vaticano II, faz parte do
patrimônio divinamente revelado (OE 1).
Quanto a Igreja Protestante (1517) vale
dizer que, em 31 de outubro de 1998, na mesma faculdade em que Martinho
Lutero expôs suas 95 teses, na Alemanha, o papa beato João Paulo II
retirou da parte Católica a ex-comunhão sobre ele, Lutero e os
luteranos; e, por sua vez, o representante da Igreja Luterana fez o
mesmo, criando assim uma possível relação de comunhão entre essas duas
poções do Povo de Deus.
Tudo isso me leva a crer, opinião
particular, que a Igreja de Jesus enquanto Povo de Deus é uma só, porém,
com diversos rostos e tradições de características próprias adquiridas
no conflituoso processo histórico das sociedades em que estão inseridas.
E por assim serem, são distintas uma da outra, cada qual com suas
próprias formas de estarem no mundo, de se organizarem, de crer e
celebrar. Um povo diversificado, porém, uma única Igreja de Cristo, que
como dizia os antigos, tem na histórica igreja e no bispo de Roma, sua
precedência.
É isso aí. Peço que consulte os seguintes livros, usados neste artigo:
1. Pierrard. Pierre. História da Igreja. São Paulo: Edições Paulinas, 1982.
2. Cechinato. Pe. Luiz. Os 20 séculos da caminhada da Igreja. Petrópolis-RJ: Vozes, 1996.
3. Frederico. Frei Vier, ofm.,
Kloppenburg. Frei Boaventura,ofm. Compêndio do Vaticano II –
Constituições, Decretos, Declarações. Petrópolis-RJ: Vozes, 1987.
4. Folch. Gomes, Cirilo, Antologia dos Santos Padres. São Paulo: Edições Paulinas, 1979.
5. Jeremias. Joachim. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008.
6. Schillebeeckx. Edward. Jesus a história de um vivente. São Paulo: Editora Paulus, 2008.
7. Mester. Frei Carlos. Paulo Apóstolo – um trabalhador que anuncia o Evangelho. São Paulo: Editora Paulus, 2008.
8. Comblin, José. Cristãos rumo ao século XXI – nova caminhada de libertação. São Paulo: Editora Paulus, 1996.
9. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Vozes, 1993.
10. Biblia de Jerusalém. Editora: Paulus, 2002.
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